Poucos javalis abatidos? Os dados desmentem esse mito no Brasil

Poucos javalis abatidos? Os dados desmentem esse mito no Brasil

Circula a tese de que há poucos javalis abatidos no Brasil em relação ao número de armas registradas para caça. Em outras palavras, críticos alegam que a quantidade de javalis mortos é baixa diante do acervo nas mãos dos caçadores. Insinuam que muitos teriam “burlado a lei” ao se registrarem como caçadores para obterem armas. Assim, não estariam realmente controlando a praga.

No entanto, essa visão simplista ignora fatos fundamentais. Dados oficiais recentes trazem evidências. Problemas no sistema de registros do Ibama mostram distorções. A própria natureza da caça demonstra a dificuldade. Todos esses fatores juntos mostram que essa conclusão está equivocada.

Além disso, o javali (Sus scrofa) é uma espécie invasora que se reproduz rapidamente. Consequentemente, causa enormes prejuízos ambientais e agrícolas. Portanto, o abate sistemático desses animais é imprescindível.

Neste artigo vamos contestar a ideia de “poucos javalis abatidos”. Apresentaremos números reais. Explicaremos distorções nos relatórios. Defenderemos o papel do caçador legal como aliado do meio ambiente. O agronegócio também se beneficia dessa atuação.

Vamos aos fatos para entender por que comparar o número de armas de caça com o de javalis abatidos é enganoso. Assim, poderemos discutir como melhorar o controle dessa praga no Brasil.

1,4 milhão de javalis abatidos: os dados oficiais recentes

Antes de mais nada, é importante conhecer os dados oficiais de abate de javalis no Brasil nos últimos anos. De acordo com informações fornecidas pelo Ibama, entre 2019 e 2025 os caçadores declararam o abate de 1.423.427 javalis em território nacional. Isso mesmo: mais de 1,4 milhão de animais abatidos oficialmente em apenas seis anos.

Esse número impressionante está longe de ser “pouco”. Corresponde aos relatórios enviados pelos próprios caçadores ao sistema do Ibama (Simaf). Vale notar que esses abates incluem tanto machos quanto fêmeas. Especificamente, cerca de 57,8% eram machos e 42,2% fêmeas. Isso desmonta o mito de que o caçador só abateria porcos machos “troféu”.

Pelo contrário, os dados mostram um controle real da população. Ambos os sexos estão sendo eliminados. Além disso, aproximadamente 64% dos javalis abatidos estavam em idade reprodutiva. Isso indica que o manejo tem atingido animais capazes de procriar. Portanto, ajuda a frear a expansão exponencial dessa espécie invasora.

Em resumo, os números oficiais de javalis abatidos no Brasil são expressivos. Já representariam um grande impacto positivo no controle da praga. Contudo, como veremos a seguir, esses dados ainda subestimam drasticamente a realidade.

Por que, então, algumas vozes insistem que são “poucos javalis abatidos”?

Uma razão é a comparação indevida com o número de armas registradas. Estima-se que milhares de cidadãos obtiveram Certificado de Registro (CR) de Caçador nos últimos anos. Cada um pode adquirir até 6 armas (4 permitidas e 2 restritas) para a atividade.

Superficialmente, se dividíssemos os 1,4 milhão de abates pelo total de armas de caça, chegamos a uma média. Os críticos consideram essa média baixa. Porém, como explicaremos, essa comparação é enganosa e injusta por vários motivos. Primeiramente, os relatórios oficiais estão longe de cobrir todos os abates realizados. Além disso, a burocracia dificulta o registro. Finalmente, caçar javalis não é uma tarefa simples nem de sucesso garantido.

Antes de julgar apenas pelos relatórios de abate, é preciso entender as falhas no sistema. Também devemos conhecer a realidade da caça ao javali em campo.

Relatórios distorcidos: um sistema ultrapassado, que afasta os caçadores

Se os números oficiais já impressionam, imagine o verdadeiro volume. Imagine se todos os caçadores reportassem corretamente seus abates. Infelizmente, o sistema de registro do Ibama apresenta falhas graves que distorcem a realidade.

Para começar, trata-se de uma plataforma tecnologicamente defasada. O sistema só funciona pelo computador. Especificamente, usa-se o navegador Mozilla Firefox. Consequentemente, impossibilita o uso pela grande maioria de pessoas (que não possuem um computador em casa).

Além disso, os relatórios de manejo no Simaf (Sistema de Informação de Manejo de Fauna) pedem um preenchimento detalhista e inviável para o cidadão comum. As informações exigidas incluem coordenadas geográficas. Também tipo de manejo e métodos de abate utilizados. Somam-se tamanho, peso, sexo e faixa etária de cada animal abatido na temporada (6 meses).

Na teoria, ter muitos dados é bom. Na prática, porém, esse excesso de campos desestimula e confunde os caçadores. O resultado é a subnotificação de dados.

O próprio Ibama reconhece problemas na qualidade dos dados coletados

O Ibama tem admitido falhas. Segundo a autarquia, os dados autodeclarados “podem estar incompletos”. Além disso, “tais falhas comprometem a confiabilidade estatística das informações”.

Ou seja, os relatórios oficiais não refletem integralmente a realidade dos abates. É importante lembrar que, antes de 2019, o controle era diferente. Era registrado em formulários de papel. Esses formulários eram enviados trimestralmente ao Ibama. Porém, sem validação efetiva. Muitos desses arquivos físicos se perderam. Alguns foram simplesmente arquivados sem digitalização.

Na prática, os javalis abatidos entre 2013 e 2018 não entraram em contagem nenhuma. Isso ocorre porque os papéis foram descartados. Não há base consolidada daquele período.

Somando esse “apagão” histórico à dificuldade atual de envio online, fica claro um fato importante. Os dados do Ibama subestimam grosseiramente o total de javalis mortos pelos controladores.

A barreira burocrática que afasta caçadores

Há propriedades e regiões inteiras onde caçadores abatem numerosos javalis. Porém, não conseguem ou não sabem como reportar no sistema. A plataforma do Ibama exige passos complicados.

Primeiro, é necessário cadastro no CTF. Depois, acesso ao Simaf. Em seguida, cadastro de cada propriedade rural com CAR. Posteriormente, solicitação de autorização para cada local e período. Também há autorização de acesso assinada pelo proprietário. Finalmente, envio de relatórios com detalhes de cada abate (individualmente) dos últimos 6 meses.

Não por acaso, estima-se que mais de 85% dos relatórios entregues nem sequer informam os javalis abatidos. Isso é indicativo de um problema real. Muitos usuários desistem de preencher todos os campos solicitados. Alguns simplesmente desconhecem como fazê-lo.

Esses problemas estruturais resultam em dado oficial muito abaixo da realidade. Assim, quando alguém afirma que são “poucos javalis abatidos” olhando apenas os registros, é preciso considerar. Quantos deixaram de ser reportados pelas falhas do sistema?

O iceberg submerso: a verdadeira dimensão dos abates

A defasagem nos relatórios é tão grande que merece atenção especial. Líderes do setor estimam um cenário alarmante. Menos de 10% a 15% dos caçadores preenchem os relatórios corretamente. Em outras palavras, possivelmente só um décimo dos abates realizados está nos registros oficiais!

Esse dado alarmante demonstra a magnitude do problema. Especificamente, 85% a 90% das ocorrências não são declaradas. Isso foi divulgado com base em números do próprio Ibama. Análises de especialistas também confirmam. Consequentemente, expõe-se o tamanho da subnotificação.

Se 1,423 milhão de javalis abatidos foram registrados de 2019 a 2025, isso representa apenas cerca de 10-15% do total. Portanto, o número real de javalis mortos seria exponencialmente maior. Estamos falando, possivelmente, de vários milhões de animais abatidos nas últimas meia dúzia de anos em todo o país. Isso acontece quando se considera o “iceberg” que não aparece nas planilhas.

Isso explica um fenômeno importante. Muitas regiões tiveram alívio nos prejuízos agrícolas causados pelos javalis. Mesmo que os relatórios oficiais aparentem números aquém do necessário, na prática, a atuação dos caçadores tem sido muito mais intensa. Os dados autodeclarados sugerem bem menos do que a realidade.

O impacto oculto dos abates: evitando gerações futuras de javalis

Para se ter uma ideia do impacto oculto, considere um cálculo importante. Os 1,4 milhão de javalis oficialmente abatidos implicam em milhões de nascimentos evitados.

Vamos fazer um cálculo conservador. Se considerarmos apenas uma cria por ano por fêmea, sabe-se que na realidade o javali pode procriar até 2 vezes ao ano (ou 3 em condições muito favoráveis). Considerando também taxas moderadas de sobrevivência dos filhotes, chegamos a conclusões notáveis.

Uma única javalina pode gerar até 16 filhotes por ano
Uma única javalina pode gerar até 16 filhotes por ano. É por isso que o controle do javali precisa ser contínuo e responsável.

Os 1,423 milhão de javalis eliminados evitaram que cerca de 4,6 milhões de novos javalis viessem à natureza. Caçadores argumentam que, usando parâmetros mais realistas de reprodução, mais de 8 milhões de javalis deixaram de existir. Isso tudo entre 2019 e 2025.

E lembre-se: isso tudo contando só os abates declarados oficialmente (os tais “10-15%”). Dá para imaginar, então, o efeito positivo total. Quando incluímos os outros 85-90% de javalis que possivelmente foram abatidos mas não constam nos relatórios, o impacto é ainda maior.

Não restam dúvidas: a alegação de “poucos javalis abatidos” ignora essa subnotificação massiva. A realidade é que há uma quantidade gigantesca de javalis sendo eliminados pelos caçadores brasileiros. Porém, esse trabalho é invisível aos olhos das estatísticas oficiais. Por quê? Devido a falhas administrativas. Também pela falta de incentivo para reportar.

Por que tantos caçadores deixam de preencher os relatórios?

Falta um sistema apropriado. O Ibama não disponibilizou um sistema viável para ser usado nos dias atuais. Especificamente, não oferece acesso via smartphone. Ao mesmo tempo, muitos relatam algo preocupante. Quando buscam ajuda nos escritórios do órgão, os próprios servidores não têm treinamento adequado no Simaf. Assim, não conseguem auxiliá-los.

Além disso, não há retorno positivo ou vantagem alguma em declarar os abates. O caçador só enfrenta o ônus de perder horas informando dados. Muitos desses dados sobre cada javali abatido são considerados inúteis. Ou seja, o caçador preenche o relatório apenas por consciência. Apenas por boa vontade.

E quando o sistema é complicado demais, a tendência é simplesmente enviar em branco, com abastes “zerados”. Assim se forma um ciclo vicioso. Os dados oficiais ficam incompletos. Gestores desavisados usam esses números baixos para criticar a caça. Isso leva a mais obstáculos contra os caçadores legais. Consequentemente, eles se desmotivam ainda mais a relatar. A espiral continua.

No próximo tópico, vamos desmontar de vez a comparação indevida. Entenderemos por que ter muitas armas registradas não significa automaticamente apresentar muitos javalis abatidos nos sistemas oficiais.

Caçar não é fácil: entender a baixa taxa de sucesso nos abates

Um ponto crucial que os críticos ignoram é bem claro. Abater um javali não é como apertar um botão ou ir ao estande de tiro. A caça – mesmo a de controle, como no caso do javali – é uma atividade complexa. Depende de inúmeros fatores para ter sucesso.

Abater um animal é difícil, resume o advogado e caçador César Mello. Diferentemente do que pensam alguns burocratas atrás de mesas, não basta o caçador ter uma arma potente. Isso não garante javalis mortos em cada saída ao campo. Muito pelo contrário.

A realidade do caçador esporádico

Vamos aos fatos da realidade prática. A maioria dos caçadores de javali no Brasil o faz como atividade esporádica, quase um hobby de final de semana. Isso é conciliado com trabalho e família. Isso significa pouco tempo disponível para se dedicar integralmente à caça.

“O sucesso depende de um conjunto de fatores relativos ao tempo disponível, treino, dedicação e equipamento” – explica César Mello. Quem não possui essas condições dificilmente terá abates abundantes. Em outras palavras, quanto mais casual o caçador, menor a chance de ele abater muitos javalis.

Só aqueles que praticamente transformaram a caça em profissão conseguem altos números. Estes são caçadores que se dedicam dias seguidos. Investem em cães de caça, GPS, veículos 4×4, rádios, visores noturnos, etc. E esses “caçadores de sucesso são poucos“, como destaca César. Do mesmo modo que em qualquer esporte, apenas uma minoria conquista campeonatos.

A grande maioria está na atividade pela experiência em si. Pelo controle local em suas fazendas ou região. Muitas vezes sai diversas vezes sem lograr nenhum abate.

A burocracia diminui a taxa de sucesso

Além disso, a própria burocracia legal diminui a taxa de sucesso das caçadas. Atualmente, para cada propriedade onde se vai caçar há exigências legais. É preciso ter uma autorização do proprietário. Também é necessário registrá-la no sistema (com período para a ação). Além disso, guia de tráfego específica para o destino é obrigatória.

Isso engessa a espontaneidade da atividade. Não dá para simplesmente aproveitar um fim de semana livre. Não é possível ir caçar onde surgiram rastros recentes. É preciso ter previsão e papelada.

Toda essa burocracia gera uma menor taxa de sucesso nos abates. Por quê? Porque torna a caça mais engessada. Torna-se dependente de datas e de locais fixados previamente. O javali, claro, não marca hora nem lugar para aparecer. Se o caçador está amarrado a um cronograma, muitas vezes ele vai até o ponto autorizado. Lá não encontra nenhum animal naquele momento.

Resultado: volta para casa sem nenhum javali abatido. Isso acontece apesar de todo o empenho. Portanto, a burocracia prejudica a eficiência.

O javali é um adversário astuto e resistente

Mesmo quando tudo é feito seguindo “à risca”, há outro fator. O javali é um adversário astuto e resistente. São animais de faro e audição aguçados. Comportamento desconfiado é típico. Deslocamento noturno também.

Técnicas comuns de caça de javali incluem a espera na ceva. Essa técnica atrai o bando com milho em determinado local. O caçador espera emboscado. Outra técnica mais efetiva é o uso de cães de caça para encurralar os porcos no mato. Contudo, ambas exigem muito preparo.

Na espera, por exemplo, o caçador frequentemente passa noites inteiras acordado. Aguarda a aproximação do javali. Muitas vezes ele não vem. Ou pior: vem, mas basta um disparo errado ou um barulho. Isso espanta todos de volta à mata. A caçada fica arruinada.

“Você tem uma chance: um tiro. Se abater, ótimo; se errar, sua caçada acabou, os bichos somem”, relata César Mello, ao descrever suas experiências pessoais. E depois que um grupo de javalis é assustado em um ponto de ceva, há consequências. Eles podem demorar semanas para retornar ali ou nunca mais aparecerem.

Portanto, não é incomum que um caçador faça 5, 10 incursões até finalmente conseguir abater um único javali. Caçadas frustradas são frequentes. E “o número de abates acaba muito baixo” em relação ao esforço empregado. Isso não significa incompetência ou má-fé. É da natureza da atividade.

Em resumo: por que os números de abates parecem baixos

Quando autoridades ou ONGs questionam por que o número de armas de caça parece “desproporcional”, temos uma resposta clara. Caçar javalis é difícil, trabalhoso e incerto. Cada javali abatido representa muitas tentativas malsucedidas. Representa muito tempo investido. Não é todo dia que se abate um animal, mesmo estando armado e autorizado.

Logo, não faz sentido esperar que cada arma registrada corresponda a dezenas de javalis mortos anualmente. A vida real não funciona assim.

Além disso, o abate em si é apenas o desfecho de um longo processo. Não é o único objetivo isolado. Estar no mato tem valor. Monitorar a presença da espécie é importante. Dissuadir os bandos importa. Impedir a proliferação já são resultados importantes. Ainda que nem sempre haja uma carcaça de javali para contar.

Muitas vezes, um único disparo que não atinge o javali já serve para espantá-lo. O animal é afastado da área por um bom tempo. Isso protege as plantações nas redondezas. Ou seja, mesmo caçadas sem abates contribuem para o controle. Ainda que isso não apareça em nenhuma estatística.

Diante disso tudo, é fácil entender por que o número de javalis abatidos por arma registrada parece baixo. Trata-se de uma visão estreita. Não considera a realidade do campo.

Seguir a lei não é “burlar”: os caçadores estão dentro das regras

Outra crítica injusta é propagada. Afirma-se que muitos cidadãos obtiveram o registro de caçador apenas para comprar armas. Especificamente, armas de calibre restrito. Dizem que estão “burlando o sistema” de controle de armas. Afirmam que não estariam abatendo javalis em quantidade.

Essa acusação, contudo, não se sustenta juridicamente nem moralmenteConforme explica o advogado Benê Barbosa – renomado especialista em segurança pública – quem tira o Certificado de Registro (CR) de Caçador está agindo legalmente. Compra armas dentro da lei. Não está enganando ninguém.

“Quem está comprando armas de calibre restrito pelo CR de caça está cumprindo aquilo que a norma determina, portanto não está burlando coisa nenhuma”, enfatiza Benê.

De fato, a legislação brasileira permite ao cidadão com CR de Caçador adquirir determinadas armas. Isso inclui calibres restritos, como rifles .308 Winchester ou pistolas 9mm. Essas armas são destinadas ao uso na atividade de caça controladora.

Não existe nenhuma regra que obrigue o caçador a atingir uma cota mínima de abates. Não há regra que “valide” seu registro.

Há na legislação a obrigatoriedade de caçar? Não, não há. Há uma cota, se você não abater 50 javalis, você não é caçador de verdade? Não há”, pontua Benê Barbosa.

Ou seja, não existe número mágico de javalis mortos que o cidadão precise alcançar. Não há necessidade para estar dentro da lei. Se a pessoa cumpriu todos os requisitos para obter o CR, cadastrou-se no Ibama e segue renovando suas documentações, ela está agindo legalmente. Isso é verdade independentemente de quantos (ou mesmo se) javalis abateu.

Não há fraude alguma

É importante frisar isso para acabar com a noção de “caçador de fachada”. Não podemos criminalizar alguém que segue todas as regras impostas. Até porque, como vimos, muitas vezes o sujeito tenta caçar e não consegue abater nada. Isso pode ocorrer por falta de oportunidade, tempo, ou pelas dificuldades naturais da caça. Isso não o torna um fraudador.

Aliás, não há fraude alguma. A pessoa obteve suas armas pelo caminho previsto em lei. Destinava-as ao controle de fauna exótica invasora. Não há indício de uso indevido. Essas armas não estão aparecendo em crimes ou fora de controle, conforme já se constatou.

Se eventualmente um cidadão com CR de Caçador decide não caçar, esse é um direito dele. O registro não vem condicionado a um “desempenho mínimo” em abates.

Argumentar o contrário seria como dizer que um atirador esportivo que treina pouco “burlou” o sistema. Seria como pensar que, porque não vai ao clube toda semana, ele estaria enganando as autoridades. Não faz sentido.

Caçadores pioneiros e suas armas legítimas

Além do mais, devemos lembrar algo importante. Muitos dos pioneiros que tiraram CR de Caça o fizeram muito antes. A caça ao javali nem havia sido liberada no Brasil àquela época. Eram praticantes de caça no exterior. Praticavam na África, Argentina, etc. Precisavam de armas apropriadas para essas viagens.

Eles mantiveram seus registros e acervos ao longo dos anos. Mesmo sem caçar javalis aqui. Isso demonstra um fato claro. O CR de Caçador sempre teve finalidades legítimas que vão além do controle do javali. Nenhum deles jamais foi “cobrado” por não apresentar troféus de caça locais.

Em suma, seguir as regras atuais não é burlar nada. Os caçadores estão fazendo exatamente o que a lei e os órgãos competentes determinam. Se há alguma distorção nos dados de abate, a culpa não é do cidadão que cumpre a lei. A culpa é do sistema ineficiente e da má gestão do controle de javalis.

Isso será discutido a seguir. Transformar o caçador em vilão ou insinuar que ele deveria ser medido pelo número de javalis que apresenta é injusto. Também é perigoso. Por quê? Porque desvia o foco dos verdadeiros problemas.

IBAMA e governo na mira: burocracia e omissão que custam caro

Chegamos, então, aos verdadeiros responsáveis. Pela confusão em torno dos números de javalis abatidos estão o IBAMA e a atual gestão federal. Por que culpá-los? Porque cabe a esses agentes públicos facilitar, fiscalizar e apoiar o controle de espécies invasoras. Mas o que se vê é justamente o oposto.

O IBAMA se tornou um obstáculo ao controle do javaliacusa Daniel Terra, presidente da Associação Nacional de Caça e Conservação.

Segundo ele, o órgão não tem mais condição de gerir o manejo do javali. Está “contaminado” por entraves burocráticos e ideológicos. Esses entraves inviabilizam ações efetivas. De fato, a postura do Ibama nos últimos anos tem sido preocupante. Cria regras complicadas. Exige autorizações em excesso. E ao mesmo tempo, deixa de fazer sua parte básica. Qual seria essa parte? Fornecer um sistema funcional de monitoramento. Prover dados confiáveis.

O viés restritivo do governo atual

A situação piorou com o atual governo. Há um viés mais restritivo quanto às armas. Influências de grupos ambientalistas contrários à caça também pesam. Em vez de reconhecer a contribuição dos caçadores, as autoridades parecem desconfiar deles. Buscam dificultar sua vida. Um exemplo claro está na proposta de revisão da política nacional de controle do javali em 2025.

Fala-se em reduzir o peso da caça com armas de fogo. Propõe-se priorizar armadilhas como método de manejo. Ora, até o próprio Ibama admite um fato importante. Armadilhas representam míseros 2% dos casos de controle. Enquanto 98% dos javalis são controlados por caçadores com armas de fogo e cães.

Quer dizer, querem apostar num método que praticamente não é usado. É um método de eficácia baixíssima para capturar centenas de milhares de animais. Deixam de lado quem de fato responde quase sozinho pelo serviço.

Pior ainda: o Ibama não oferece armadilhas. Não oferece incentivos financeiros para tal. Ou seja, joga a ideia no papel. Deixa o produtor rural que se vire. Isso beira o absurdo. Demonstra uma desconexão com a realidade nas decisões de governo.

Falta de transparência e dados

Além disso, há falta de transparência e de estudos sérios por parte do órgão ambiental. Os dados de abates de javali não são divulgados publicamente. Só vieram à tona porque um deputado federal requisitou formalmente as informações.

“Não existe transparência. Eles sentam em cima dos dados para evitar confrontação com a narrativa que é construída”, denuncia Daniel Terra.

De fato, enquanto o Ibama alimenta a ideia de que a caça ao javali não estaria funcionando, ele próprio não torna públicos os números. Que números? Aqueles que provariam o contrário. Os mais de 1 milhão de javalis abatidos.

Essa falta de divulgação impede um resultado claro. A sociedade não vê o quanto os caçadores estão fazendo. Também dificulta o aprimoramento das políticas. Por quê? Porque decisões são tomadas sem base em dados robustos.

O Ibama admite que nunca fez um estudo populacional amplo dos javalis no Brasil. Então com que propriedade pode afirmar se o controle atual é suficiente ou não?

Fica a impressão de que, em vez de trabalhar junto com os caçadores, a autarquia prefere embrulhar-se em burocracia e narrativas. Mesmo que isso signifique prejuízo aos produtores rurais. Mesmo que prejudique o meio ambiente.

Responsabilidade e culpa pelos “poucos javalis abatidos”

Em suma, Ibama e governo federal têm culpa no cartório pela distorção dos dados. Pela eficácia limitada do controle do javali até aqui.

Ao invés de simplificar procedimentos e motivar os caçadores, optaram por regras confusas. Um exemplo é a recente exigência de um “documento comprobatório de necessidade de abate” para emissão de CR de caça. Isso é algo redundante. Também escolheram pelo sucateamento do sistema de informações.

O resultado é um cenário preocupante. O javali continua se espalhando. Já está presente em todos os estados do Brasil. Enquanto isso, aqueles que poderiam conter essa praga enfrentam entraves. São tratados como suspeitos.

É um contrassenso: o caçador, que deveria ser valorizado como parte da solução, acaba sendo penalizado. Penalizado pela inação. Penalizado pelo excesso de zelo burocrático do Estado.

Precisamos mudar essa mentalidade urgentemente. Por quê? Porque cada atraso ou obstáculo oficial representa mais javalis. Significa javalis destruindo lavouras. Significa javalis prejudicando ecossistemas.

Felizmente, como veremos na próxima seção, há maneiras claras de melhorar o sistema. É possível tornar o controle mais eficiente. Basta vontade política e bom senso.

Javali, a praga que devasta o campo (e como o caçador ajuda a combatê-la)

Não restam dúvidas de que o javali asselvajado é uma praga no território brasileiro. Introduzidos décadas atrás, esses suínos selvagens encontraram um ambiente propício. Se multiplicaram sem controle natural. Causam estragos por onde passam.

Os impactos negativos são amplos e variados. Competem com a fauna nativa. Predando ovos de aves e alimentos de espécies silvestres. Desequilibram ecossistemas em seus habitats. Destroem o solo e a vegetação com seu hábito de fuçar. Isso é especialmente danoso perto de nascentes e cursos d’água.

Impactos econômicos e sanitários

No âmbito econômico, há consequências sérias. Os javalis são responsáveis por transmitir doenças graves aos rebanhos domésticos. Entre essas doenças estão febre aftosa, brucelose e tuberculose bovina. Além disso, devastam plantações inteiras.

Chegam a causar perdas de até 40% em lavouras de milho e soja. Os prejuízos são bilionários ao agronegócio. Relatos de produtores rurais são comoventes. Falam em noites sem dormir para espantar vara de porcos que invadem propriedades. Mencionam destruição de pastos. Ataque a cordeiros e bezerros é frequente. Há também o constante risco de acidentes. Javalis podem atacar pessoas quando acuados.

Em resumo, é uma espécie exótica invasora altamente prejudicial sob todos os aspectos. Prejudicial ambientalmente. Prejudicial agronomicamente. Prejudicial até de saúde pública.

Controlar a população de javalis não é capricho, é necessidade

Diante desse cenário, controlar a população de javalis não é capricho, é necessidade. E quem realiza esse controle atualmente? Os caçadores. São cidadãos – muitos deles produtores rurais ou moradores do interior – que dedicam tempo, dinheiro e esforço. Para caçar javalis. E assim proteger o meio ambiente e as atividades agropecuárias.

Eles arcam com os custos de armas, munições, cães de caça, gasolina e equipamentos. Tudo isso é superfaturado pelos altos impostos brasileiros. Em troca, não recebem nenhum subsídio ou recompensa. Na verdade, ganham desprezo e burocracia. Ainda assim, por consciência e senso de dever (ou simplesmente para defender sua própria plantação), seguem firmes nessa luta silenciosa.

O caçador é, portanto, um grande aliado do agronegócio e da conservação ambiental. Embora raramente seja reconhecido como tal pelas autoridades. Cada javali abatido por um desses controladores significa dezenas de filhotes a menos no futuro. Significa menos hectares de roça destruídos. Significa menos javalis competindo com nossas espécies de porcos-do-mato nativas. Significa menos risco sanitário para suínos e bovinos domésticos.

A caça ao javali não é esportiva nem comercial

Importante destacar: a caça ao javali no Brasil não é esportiva nem comercial. É exclusivamente ambiental. O Ibama deixa claro que a carne dos javalis abatidos não pode ser comercializada. Tampouco se deve caçar por “diversão” ou troféu.

Ou seja, quem se dispõe a caçar javali o faz pelo propósito de controle. Não para ganho financeiro. Isso derruba outro mito propagado por ONGs contrárias. A de que o javali seria só uma “desculpa para caça recreativa”. Essa afirmação soa ofensiva a quem acorda de madrugada. De madrugada para pegar no pesado tentando conter a praga.

Ninguém enfrenta um monte de formulários e madrugadas geladas no mato apenas por esporte. Faz isso para ajudar a comunidade, o meio ambiente e o país.

O javali, esse sim, não precisa de desculpas para continuar se espalhando e causando destruição. Já os caçadores precisam, isto sim, de apoio e desburocratização para continuarem essa importante missão.

No próximo tópico, veremos propostas concretas para melhorar o sistema de controle. Tornaremos o controle mais simples e eficiente. Assim, poderemos aproveitar melhor essa força aliada que são os controladores de javali.

Como melhorar? Relatórios simples e mais eficiência no controle

Diante de todos os problemas expostos, fica evidente algo. A política atual de controle do javali precisa de reformas. Uma das medidas urgentes é simplificar o sistema de relatórios de abate.

Não faz sentido exigir que cada caçador seja também um escrivão meticuloso. Não deve preencher dezenas de campos online sob risco de erro. Uma sugestão prática seria reduzir o formulário de abates a três informações básicas. Especificamente:

  • Número de machos adultos abatidos;
  • Número de fêmeas adultas;
  • Número de filhotes abatidos.

Isso seria informado por temporada (6 meses). Só. Esses são os dados essenciais para acompanhamento populacional. Todo o resto poderia ser inferido ou dispensado.

Simplificando o preenchimento: uso de CAR integrado

As coordenadas geográficas do local? Poderiam ser preenchidas automaticamente pelo sistema. Como assim? Vinculadas ao CAR (Cadastro Ambiental Rural) da propriedade já cadastrada previamente pelo caçador.

Assim, ao selecionar a fazenda onde houve o abate, o sistema já saberia a localização. Saberia o município etc. Sem exigir que o usuário digite manualmente latitude e longitude. Esse campo é propenso a erros.

Método de abate? Já está definido na autorização. Se com arma de fogo ou arma branca. Tipo de manejo? Irrelevante e já consta na autorização.

Menos campos a preencher = mais relatórios enviados corretamente.

O feedback dos caçadores

Por que acreditamos que isso funcionaria? Porque hoje mais de 85% dos caçadores nem preenchem os campos relacionados aos javalis abatidos no período. Enviam os relatórios “zerados”. Ou seja, a grande maioria das pessoas não se dá ao trabalho. E alguns não sabem como colocar informações de abates. Isso torna os números oficiais totalmente distorcidos.

Se simplificarmos para poucos campos objetivos, aumentaremos a taxa de envio. A taxa de envio completo e acurado crescerá significativamente. Vale aqui aprender com a experiência de quem está em campo.

Muitos caçadores afirmam que teriam prazer em reportar seus abates. Mas apenas se fosse algo rápido. Por exemplo, algo como “Matei 7 fêmeas e 4 machos este semestre na Fazenda X”.

O importante é termos uma noção aproximada dos abates para planejar ações. Não precisamos de um compêndio estatístico perfeito. Esse tipo de documento não reflete a realidade dos números. Menos é mais quando o “mais” afasta o usuário.

Digitalização completa do sistema

Além disso, digitalizar completamente o sistema ajudaria bastante. Torná-lo responsivo a celulares, por exemplo, facilitaria o acesso. Assim, o próprio caçador poderia enviar as informações. Não teria que recorrer a um computador ou despachante. A democratização do acesso é essencial.

Desburocratizar as autorizações de caça

Outra frente de melhoria é desburocratizar as autorizações de caça. Hoje, para legalmente controlar javalis, o cidadão passa por um verdadeiro calvário burocrático.

As exigências incluem inscrição no Cadastro Técnico Federal. Também há emissão de Certificado de Regularidade. Isso é exigido a cada 3 meses. Há obtenção de autorização de controle do SIMAF para cada propriedade. Validade máxima de 6 meses. Também assinatura de declaração de acesso pelo dono da terra. Deve listar todos os membros da equipe.

Então, claro, portar consigo toda essa papelada sempre que for a campo. Além disso, há a documentação da Polícia Federal para as armas. Como CR, CRAF e Guia de Tráfego (GT) específica para o destino.

Informações essenciais segundo o Ibama

Conforme esclarece o próprio Ibama em boletim recente, o caçador precisa portar informações essenciais. Precisa da Autorização de Controle do Simaf. Esta deve estar acompanhada da Declaração de Acesso à Propriedade assinada pelo proprietário.

A assinatura pode ser com firma reconhecida ou assinatura eletrônica. Deve listar cada integrante da equipe. Além disso, deve haver o Comprovante de Inscrição no CTF. Também o Certificado de Regularidade do Ibama.

É documento que não acaba mais! Todo esse rito consome tempo, dinheiro (com taxas e despachante) e paciência.

As consequências da via-crúcis burocrática

O resultado dessa via-crúcis burocrática é previsível e problemático. Muitos potenciais controladores desistem no meio do caminho. Alguns partem para a informalidade. Arriscam multas e apreensões. Não deveria ser assim.

A legislação ambiental deve zelar pelo equilíbrio ecológico, sim. Porém, não pode estrangular quem atua justamente para proteger o meio ambiente e a produção rural.

Simplificar relatórios e autorizações não significa abrir brecha para abusos. Significa, sobretudo, confiar e capacitar o cidadão de bem que quer ajudar.

Alternativas viáveis

Uma alternativa seria delegar mais competências aos órgãos ambientais estaduais. Outra seria delegar aos sindicatos rurais. Isso tornaria o processo mais próximo do produtor. Daniel Terra, da ANCC, defende que os estados assumam o controle do javali. Eles têm mais condição de agir localmente.

Seja qual for o modelo, o importante é reduzir obstáculos. É perfeitamente possível manter a caça controlada, com segurança e dentro da lei. Isso não exige labirintos burocráticos.

Ao invés de tratar o caçador como um potencial infrator, devemos integrá-lo como parte da solução. Assim, fornecemos sistemas ágeis e apoio técnico.

Conclusão: juntos por um controle eficaz do javali

A ideia de que há “poucos javalis abatidos” frente ao número de armas de caça se mostrou um mito quando examinamos os fatos.

Os dados oficiais (embora incompletos) já contabilizam centenas de milhares de abates. Estimativas indicam que o número real de javalis mortos é muito maior. Graças ao esforço persistente de nossos caçadores.

Se esses números não aparecem, a culpa recai sobre um sistema ultrapassado e uma gestão pública deficiente. Não sobre quem está no mato enfrentando a praga.

Comparar o total de armas registradas com os relatórios de abate, sem contexto, é ignorar a subnotificação. Também é ignorar a dificuldade inerente da caça.

Reconhecendo a realidade da legislação

Conforme discutido, possuir armas e autorização não garante abates. Seguir as regras não é burlar nada. Na verdade, é exercer um direito e um dever cívico dentro da lei.

Mudando o foco do debate

Precisamos mudar o foco da discussão sobre javalis. Em vez de demonizar os caçadores legais ou duvidar de sua eficiência, devemos cobrar melhorias no sistema e nas políticas de controle.

Simplificar relatórios e acabar com exigências redundantes são passos essenciais. Também devemos prover transparência nos dados. Principalmente, é preciso reconhecer o javali como questão de Estado. Não como questão ideológica. Esses são passos fundamentais.

O javali é uma ameaça real e crescente. E, com o apoio correto, os caçadores são os únicos que podem manter essa população sob controle. Assim, protegendo nossas lavouras, rebanhos e biodiversidade.

Sua participação é fundamental

E você, o que acha de tudo isso? Participe desse movimento por mudanças! Deixe seu comentário abaixo com sua opinião. Conte suas experiências.

Você já enfrentou a burocracia para caçar javali? Já teve prejuízos causados por eles?

Compartilhe este artigo com outros interessados. Vamos levar essa discussão adiante. Isso deve acontecer nas redes sociais. Também nos grupos de produtores. Nas associações de tiro e caça também. Vamos pressionar as autoridades por bom senso.

Juntos, podemos mostrar que os caçadores responsáveis são parte da solução e não o problema. Comente, compartilhe e faça sua voz ser ouvida.

Assim, quem sabe conseguiremos reformar a legislação e os sistemas de controle. Poderemos tornar o manejo do javali no Brasil mais eficiente, transparente e justo para todos.

Saty Jardim:

Prestador de serviços credenciado no Exército Brasileiro sob Nº 000.116.553-48. Praticante da pesca, caça e do tiro desportivo, que aprendeu na prática os procedimentos legais para compra e registro de armas de fogo, requisição de CR e outros procedimentos junto ao Exército, Polícia Federal, IBAMA e SAP/MAPA.

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