Guia de recarga de munições de caça para iniciantes

Guia de recarga de munições de caça para iniciantes

Com um mundo cada vez mais globalizado, cada produto depende de uma cadeia de suprimentos. Com as munições não é diferente e uma instabilidade no mercado ou no fornecimento de matérias primas, pode acarretar em falta do produto nas prateleiras. Tivemos diversos exemplos durante a pandemia, onde também sumiram algumas munições do mercado. Aqueles prevenidos, que já tinham estoques de estojos, pólvora, espoletas e projéteis, saíram na frente; os demais encontraram dificuldades até mesmo para comprar os insumos. Pensando nisso, elaboramos esse guia sobre a recarga de munições de caça para iniciantes.

É crucial antecipar-se para evitar ser pego desprevenido pela próxima eventual falta de munição. Recarregar munições é uma atividade que combina diversão, satisfação e segurança, com a vantagem de que os componentes necessários estão novamente disponíveis para venda. Caso você seja um CAC e tenha o interesse em procurar autonomia na recarga de suas munições de caça, mas se encontra inseguro sobre como iniciar, este é o artigo que você precisa.

Por que recarregar sua própria munição?

Recarregar sua própria munição oferece dois grandes benefícios: economia significativa e controle absoluto sobre o desempenho. Em comparação com a munição de fábrica de alta qualidade, a recarga emerge como uma alternativa mais acessível, uma realidade que se tornou ainda mais evidente após a pandemia. Peguemos, por exemplo, um cartucho de caça .308 Win., cujo preço gira em torno de 15,00 Reais por unidade. Se você já possui a capsula, os custos caem drasticamente, precisando apenas arcar com projéteis (cerca de R$ 5,00 cada), pólvora (R$ 3,80 cada por cartucho) e espoletas (R$ 1,10 por cartucho), resultando em menos de 10 Reais por cartucho recarregado, representando uma economia de 1/3 por disparo.

Além da vantagem financeira, recarregar munição coloca nas mãos dos caçadores o poder de personalizar cada cartucho, ajustando-os perfeitamente às preferências e necessidades específicas de seus rifles. Esse controle detalhado sobre os insumos da munição permite experimentações com diferentes tipos de projéteis e pólvoras até encontrar a combinação ideal que ofereça a melhor precisão. Portanto, mais do que um meio de economizar, recarregar munição é um caminho para aprimorar a precisão e a performance, garantindo que cada tiro conte com a máxima eficácia.

Qual é o equipamento necessário?

Para iniciar na recarga de cartuchos em formato “garrafa”, é essencial ter o equipamento básico. Aconselha-se a compra de um kit de recarga completo em vez de adquirir cada item separadamente, pois isso representa economia e praticidade. Além disso, kits usados podem ser encontrados a preços acessíveis em lojas especializadas, ou até mesmo em grupos de caça, uma vez que alguns desistem do hobby e decidem vender o equipamento.

O kit básico inclui prensa, conjunto de matrizes específica para o calibre (por exemplo, .308 Win., 6.5 Creedmoor, .243 Win.), polvorímetro (ou funil e dosador de pólvora), balança, bloco para segurar os estojos durante a recarga, espoletador manual, paquímetro, óleo lubrificante para estojos, manual de recarga (impresso ou online), aparador de estojos (Trimmer), ferramenta de rebarbação e tamboreador para limpeza de estojos. Geralmente, os kits de recarga já vêm com todos esses itens, exceto o aparador de estojos, ferramenta de rebarbação e tamboreador.

Para iniciantes, é recomendado começar com uma prensa de estágio único ao invés de uma semiprogressiva. As prensas semiprogressiva produzem munição mais rapidamente, porém têm custo mais elevado e são mais complexas de operar. Uma prensa de estágio único é totalmente adequada para produzir quantidades menores de munições de caça de alta qualidade.

Quais são as etapas do processo?

A segurança e a atenção são fundamentais na atividade de recarga de munições. Dedique tempo, siga rigorosamente o manual de recarga e sempre revise seu trabalho.

Limpeza das capsulas:

Utilize um tamboreador de limpeza, seja o vibratório ou o rotativo. O objetivo é deixar o latão das capsulas brilhante e limpo, evitando problemas de ciclagem devido à sujeira.

Inspeção dos estojos:

Examine cada capsula em busca de defeitos óbvios, como bocas rachadas, outros tipos de fissuras, abaulamentos e corrosão. Se cada cartucho foi disparado apenas uma vez, é improvável encontrar problemas. Não ignore esta etapa, especialmente se coletou os estojos pelo chão.

Redimensionar e Desespoletar:

Com a capsula limpa, é hora de passá-lo pela matriz de redimensionamento e desespoletamento. Os estojos precisam ser redimensionados porque expandiram ao serem disparados. A matriz os retorna às dimensões originais e remove a espoleta usada.

Siga as instruções do conjunto de matrizes específico para seu calibre e aplique óleo lubrificante nas capsulas para evitar que fiquem presos na matriz.

Aparar os Estojos (trimagem):

Após o redimensionamento, os estojos ainda costumam ficar um pouco maiores do que o tamanho original. Se ultrapassarem o “comprimento máximo de cartucho” indicado no manual de recarga, é preciso cortá-los até o “comprimento de corte” sugerido. Por exemplo, ao recarregar cartuchos .308 Win. observe o tamanho de 51 mm e realize o corte caso ultrapasse essa medida. Existem diversos tipos de aparadores de estojos de munição (Trimmer); o mais comum é a fresa manual, que pode ser acoplada no torno de bancada e é ideal para recarga de pequenas quantidades de munição de caça. Após o corte, utiliza-se um removedor de rebarba para suavizar a boca de cada cartucho.

Espoletar os Cartuchos:

Com auxílio do espoletador manual, insira uma nova espoleta em cada um dos cartuchos. As espoletas variam em tamanho, sendo as “Large Rifle 9 ½” comuns em cartuchos para caça de grande porte, como o .243 Win., 6.5 Creedmoor, .308 Win., 7,62x51mm, 30-06, .30-30, .300 Win. e tantos outros. Consulte o manual de recarga para escolher o tipo correto de espoleta. Lembre-se de que a precisão na escolha da espoleta pode influenciar a performance da munição, realçando a importância deste passo no processo de recarga de munições de caça.

Carregando os Cartuchos com Pólvora:

Este passo demanda extrema cautela. A carga incorreta pode levar a falhas graves, com riscos de lesões. O manual de recarga especificará a carga mínima e máxima para cada combinação de projétil/pólvora. Por exemplo, para projéteis de cartuchos .308 Win., recomenda-se entre 38 e 42 grains de pólvora, conforme o peso do projétil (125, 150 ou 165 grains). Seu rifle pode funcionar melhor com uma combinação específica entre pólvora e projétil, por isso é importante testar. Utilize o polvorímetro para dispensar a quantidade recomendada de pólvora em cada estojo. Não esqueça de fazer uma checagem das quantidades com auxílio da balança.

Como alternativa, você pode fazer o processo manualmente com auxilio de um dosador de pólvora e de um funil. Ou seja, utilize a balança de pólvora para medir exatamente a quantidade indicada no manual, ajustando com o dosador de pólvora. Em seguida, preencha cada cartucho com a pólvora, usando um funil.

Posicionando os Projéteis:

Com os cartuchos prontos e carregados, retorne à prensa para inserir os projéteis usando a matriz específica. O manual indicará o “comprimento total do cartucho” para cada tipo de munição. Selecione o projétil desejado e ajuste-o à profundidade que atinja o comprimento especificado. Essa etapa requer um paquímetro para precisão. Ajustar corretamente a profundidade do projétil é fundamental para a performance e segurança da munição recarregada. Uma munição com tamanho inadequado poderá causar panes na alimentação da arma. Já pensou se você perde aquele javali enorme porque a sua arma travou?

Crimpagem:

Seu conjunto de matrizes pode incluir uma matriz de crimpagem, que firma o projétil ao cartucho para evitar deslocamentos. Embora recomenda-se crimpá-los caso a munição seja destinada à rifles semiautomáticos, talvez não seja tão necessário para rifles de ferrolho, pois o manuseio geralmente não é brusco a ponto de desalojar os projéteis. Porém, se a crimpagem aumentar sua confiança nas recargas, vale a pena.

Processo de recarga de cartuchos de caça em vídeo

Caso prefira, confira o processo de recarga de munição de caça em vídeo, logo abaixo.

Considerações finais sobre a recarga de munições de caça

Este artigo oferece apenas uma visão geral do processo de recarga de munições de caça. Cada um dos oito passos poderia ser detalhado ainda mais, porém o objetivo do artigo foi demonstrar que recarregar munição de rifle é um processo acessível. “Fácil” talvez não seja a palavra exata, mas com paciência e cuidado, qualquer caçador pode fabricar sua própria munição, melhorando sua experiência de tiro e conhecimento sobre munições.

Ficou com alguma dúvida sobre o processo? Deixe o seu comentário logo a baixo.

Saty Jardim:

Prestador de serviços credenciado no Exército Brasileiro sob Nº 000.116.553-48. Praticante da pesca, caça e do tiro desportivo, que aprendeu na prática os procedimentos legais para compra e registro de armas de fogo, requisição de CR e outros procedimentos junto ao Exército, Polícia Federal, IBAMA e SAP/MAPA.

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